Particularmente sou um grande fã dos trabalhos realizados pelo Felipe.
Vários de seus trabalhos estão expostos por todo o campus da Universidade Estadual de Maringá, como "A GRANDE MÁQUINA SEM PÉ" que é fantástico e outra parede que realizou em conjunto com Folk You.
Mas não é só no graffiti que Felipe demonstra seu talento, autor de telas fantásticas e desenhos free hand que surpreendem o público, Felipe é hoje o convidado do blog para um bate papo!
Confira:
- Felipe, você é jovem e já produz muito. Como a arte entrou em sua vida? Como foi ou é a aceitação de seus pais e familiares em relação a isso? Sofre preconceito?
Não sei se produzo tanto assim, (risos) mas a gente faz o que pode... Queria poder dedicar mais tempo a isso. A arte sempre esteve em minha vida e na de todo mundo, digo isso por hoje eu enxergá-la como relação, sempre ouso em dizer que tudo é arte (risos).
Bom, mas eu comecei a produzir quando criança acho que todo mundo começa aí... Foi com uns 11 anos que passei a me interessar mais por desenho e criação. Eu havia me mudado para Curitiba da época e no meu prédio fiz uma amiga que tinha um bom incentivo artístico e gostava de desenhar. Através dela comecei a freqüentar uma oficina de desenho e depois disso tenho desenhado sempre. É complicado escrever sobre isso, são histórias longas, cheias de vivências que me levaram a fazer o que faço agora. Dentro de casa foi sempre muito tranqüilo em relação a isso, me incentivaram bastante e ainda incentivam. Meu pai sempre me disse que o mais importante era que eu fizesse o que eu gosto de fazer.
- Você faz pintura em tela, desenhos em papel canson, graffiti etc... Como é trabalhar com estes diversos formatos? A arte do Felipe tem limites?
Eu acredito que faça parte do processo criativo a experimentação, é uma forma de conhecer seu próprio trabalho e até você mesmo. Na arte contemporânea os suportes e técnicas têm uma importância fodida, não só o conteúdo, mas a mestiçagem dos elementos da obra. Nenhuma arte tem limites, a arte não tem limites, (risos)... Mas posso dizer que estou cada vez menos satisfeito com os suportes convencionais e ultimamente os muros têm me agradado demais, é outro tipo de relação, parece chegar muito mais perto da liberdade e do caráter da arte.
- Muitos de seus trabalhos apresentam fortes traços da anatomia humana, alguns são como “centopéias humanas” como aqui ninguém vai para o céu, de onde vem a inspiração para trabalhos como esses?
Olha, queria conseguir poder dizer, mas foi uma construção, a partir de uma desinternalização, de um momento que quis romper minhas próprias barreiras em relação à arte e sentimentos, daí surgiram essas personagens esquisitas. Quando paro para pensar sobre eu chego à conclusão que é mais uma forma que tenho de ver o homem e suas angustias principalmente, seus medos, desejos, sentimentos...
A inspiração vem da minha experiência, músicas, gosto muito de observar trabalhos de artistas que desconstroem o ser humano, porém tudo vem principalmente de sentimentos do momento, angústias minhas.
- Está no segundo ano de Artes Visuais, todos vemos que você possui um dom, acredita que a faculdade engrandece seus trabalhos em algum sentido? Conte-nos um pouco de como é um curso de artes visuais na UEM.
Vish, essa pergunta já começou errada... Não acredito em dom, é outra construção social que deveria ser rompida, esse e outros termos que afirmam uma habilidade como algo inato nos distancia severamente da arte, quando na verdade somos todos produtores de arte, a qualquer momento, sem existir barreiras, melhor ou pior (deixando de lado a questão de conteúdo).
Dom remete a algo divino, que foi recebido desde o nascimento, sendo que a habilidade é desenvolvida pela experiência, na marra mesmo. Só estou afirmando isso por sentir que a palavra “dom” desvaloriza o trabalho da própria pessoa de chegar onde está talvez exista alguma maior sensibilidade por alguns a certas coisas, mas que só se aprimora se for desenvolvida, tudo está em um eterno processo. A faculdade me influenciou de uma maneira muito positiva nos trabalhos, agora sinto que exista muito mais conteúdo no que eu faço. Conhecimento nunca é demais, né!?
Um individuo que se dedique a produções artísticas deve estar sempre conhecendo, nunca estar confortável e acomodado, se quiser transformar. Falta muita coisa para o curso de Artes Visuais funcionar bem, principalmente no sentido estrutural, sou da primeira turma, então somos as ditas “cobaias”, entretanto em relação ao conteúdo teórico sinto que estamos sendo muito bem preparados.
- Outra obra que achei muito interessante foi a “TRANSGREDIR”, existia uma interação com o público, nos primeiros dias ninguém havia assinado ou desenhado no painel, no ultimo dia de exposição não havia um espaço se quer para uma assinatura. Obras como essas são diferencias, como nos diz Bourriaud, a arte interagindo com o público e gerando outro mundo. O objetivo ai foi alcançado? Qual é o sentimento de ter um trabalho reconhecido?
A proposta do trabalho era elaborar uma pintura conversando o tapume e a cadeira, tendo que ser uma releitura de algum artista ou período. No caso eu usei do período contemporâneo. Com meu trabalho eu quis por em foco a relação espectador e obra, relacionando com a pichação, que considero arte, com fundamentos para isso.
A pichação tem um caráter transgressor, violento, é o papel que ela assume, portanto um individuo ao realizar tal ato está rompendo com construções sociais de ordem, estéticas, etc; construções essas que são reflexo ou refletem na maneira de tratar a arte, como algo contemplativo, que deve ser admirado, colocando que a única relação “permitida” existir entre espectador e obra seja a de contemplação, assim como na arte renascentista, que se tinha o artista como gênio, iluminado, portador do tal “dom” e que sua obra deveria ser admirada, intocada, quase que idolatrada... A intenção da minha obra foi exatamente essa de incitar a pessoa a romper essa barreira da arte como meramente contemplativa e transgredir, se permitindo concretizar essa ruptura no ato de riscar sobre uma obra, com características de uma arte idealizada. O individuo se deixa fazer parte da obra e a obra passa a fazer parte dele.
Eu confesso que fiquei bem surpreso com o resultado do trabalho, de uma hora pra outra tomaram conta com os “pichos”, inclusive em lugares que eu não havia considerado que seriam intervidos, como a cadeira e as folhas que forravam o chão e as paredes. O objetivo não foi totalmente alcançado porque soube que algumas pessoas foram instruídas a rabiscar, principalmente as crianças, sendo que a intenção era a própria pessoa se questionar e tomar a iniciativa; mas achei que cumpriu o papel, não sei se compreensível para todos. Achei engraçado que alguém riscou o “porra!” e também outra pessoa que escreveu “obedeça”, contradizendo seu conteúdo no próprio ato, entretanto obedecendo a obra.
- Como é trabalhar em conjunto com outros artistas, recentemente fez um trabalho com Folk You na UEM. Planejam o que irão fazer antes ou vão produzindo e unem os desenhos depois?
Pra mim deve existir uma relação de ajuda entre artistas, um sempre dando força pro outro, porque não ta fácil pra ninguém! Principalmente os artistas locais e se tratando de Maringá, que é ridícula em relação ao incentivo às artes, visuais nem se fala.
* Trabalho realizado em conjunto com Folk You
- O que podemos esperar para o segundo semestre de 2012? Já existe algum projeto em mente?
Não sei, hahahaha. Agora estou pensando muito em investir mais pesado no grafite, fazer algumas experimentações pra ver o que rola e descobrir se vale a pena desenvolver isso.
Quero agradecer aí a você, que sempre está dando força pra gente aqui de Maringá e que faz isso muito bem, a galera que também me dá força e ao universo... Parabenizar seu blog que está cada vez melhor! E Principalmente dizer para as pessoas saírem da casinha, já que a porta está aberta... TRANSGRIDAM, PORRA!
Agradeço ao Felipe pelo bate papo.
Sucesso e novamente, parabéns por sua arte, é lindo.
Confira mais trabalhos de Tomazella clique aqui.
* Imagens retiradas do facebook do artista.
Um comentário:
Ahh, Augusto... Alí o título da obra não é "Transgrida, porra!", mas "Transgredir"... A escrita em vermelha foi uma pichação a parte tentando incitar melhor a galera a sacar a intenção da obra, então ali eu estava no meu papel de espectador também... Só pra completar o pensamento hahahaha. Valeu de novo!
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